quarta-feira, 16 de abril de 2014

Ansiedade e viagem de trem

Esses dias não foram muito simpáticos, porque eu e o Jorge estávamos muito ansiosos, aguardando a resposta da imigração para saber se eles aceitariam ou não nosso pedido de extensão de visto por mais três meses. Foram muitas conversas, imaginando um plano B, muita impossibilidade de fazer coisas a longo prazo, muita insegurança.

Ó nóis num papo-cabeça, provavelmente discutindo se transferíamos dinheiro ou não, se iríamos pra Fiji ou não… rs
Como as crianças não tinham que decidir nada, tentamos o quanto pudemos sair com elas para aproveitarem a cidade (vai que a imigração não liberava nosso visto, né? ).


Caio e o ovo de Páscoa gigante.
Os meninos caminhando pelo Waterfront.
Em casa também houve muito aprendizado! Meu, principalmente. Tenho percebido que o Igor tem falado mais as coisas que o afligem e isso me deixa muito feliz! Será que teremos uma adolescência de confiança mútua? Espero, sinceramente, que sim, mas ainda sinto muita dificuldade em entendê-lo. Ele dá tantas voltas para chegar onde quer com medo de… de… sei lá! Acho que com medo dos pais que fomos. Não que hoje somos os melhores pais do mundo, pois erramos (e muito!), mas tenho certeza de que sou melhor do que fui e o Jorge também. Eu ainda não concordo com a forma como o Jorge resolve muita coisa (ainda sinto uma violência e uma imposição hierárquica no modo como ele fala), mas percebo que já melhorou bastante e quando dou um toque (e vice-versa), a tendência é entender e aceitar.
E, apesar dos erros, acho que posso resumir nosso sentimento nessa frase da Eliane Brum, que tirei desse texto maravilhoso sobre outro tema que tomou meus momentos de reflexão:

"[…] O que se torna claro no comportamento de Adelir é que ela tem a coragem de se responsabilizar. E se responsabilizar é ser mãe. […]"

Sim, não é fácil, mas quando a gente se responsabiliza, a gente aceita que erra, a gente ousa dizer não, a gente se enxerga aprendendo, sempre.
Anna-aranha. O Jorge é melhor que eu em deixar que eles explorem seus limites… :D
Por outro lado, eu gostaria muito que eles fossem além do que vão… Ai, ai… Lá no fundo está tendo um campeonato de escorregar no morro com papelão. Pergunta se meus bichinhos-do-mato quiseram ir...
Outra coisa que aprendi foi a dar valor para a cópia. Eu espero (acho que todos as mães esperam, mas vou falar por mim…) que meus filhos sejam muito criativos, brilhantes! Daí que eu achava que copiar não estava com nada. E todas as vezes que o Igor me mostrava algum desenho copiado ou alguma invenção copiada ou baseada em outra já existente (como de filmes etc.) eu ficava meio decepcionada com ele, pois eu sei que ele pode mais. 
Só que vem a vida e Plaft! dá um tapa na minha cara! (Obrigada, vida!) A Anna aprende tudo por imitação. Ela copia o jeito de a gente falar, as brincadeiras dos meninos, os gestos, tudo, tudo, tudo. E se ela pode aprender copiando, por que o Igor não poderia?? E eu passei a acreditar que, copiando, ele poderá desenvolver a própria técnica.
Igor na sua sessão "how to draw".
Anna brincando de imitar a gente, porque ela só fez cocô ali uma vez! rs...
Você consegue dizer quem está copiando quem? Eu consigo! :D
Outra coisa que eu consegui fazer e fiquei muito orgulhosa de mim mesma: segurei a minha língua autoritária.
Explico: um dia o Igor me mostrou um avião que tinha feito e disse que o nosso favorite guest tinha dito que precisava corrigir a perspectiva. Eu comentei que estava muito bonito, mas que realmente a perspectiva não estava lá essas coisas e expliquei rapidamente para ele do que se tratava, mas, claro, ele entendeu apenas a crítica e ficou de bico, sem querer saber como era a tal perspectiva… Quando ele começou com as sessões de "how to draw", eu estava doida para sugerir para ele ver como desenhava coisas em perspectiva, mas segurei a onda. Vai que ele desistia de vez só porque eu estava sugerindo, né?
Num dia ele desenhou um carro, noutro desenhou um Picachu, noutro um Homem de Ferro e assim foi até que um dia… "Mãe, olha, tem um vídeo aqui que ensina desenhar em perspectiva!". Preciso dizer que fiquei muuuuito feliz e orgulhosa do meu pequeno desenhista? E assim ele fez um desenho lindo, com dois pontos de perspectiva. E o cara que explicava no vídeo foi muito didático e ele entendeu tudinho e soube até corrigir o avião que ele tinha feito anteriormente.
Agora só preciso conseguir fazer isso sempre! Ai, como é difícil… Às vezes fico me questionando por que sou tão "mandona". Sei que tenho características de liderança, mas pôxa… com a minha família também? De vez em quando essa característica ajuda, claro, mas nesse nosso processo desescolarizado só atrapalha. Preciso pensar mais sobre isso… Será que a liderança, afinal, não casa com a desescolarização?
Voltando ao assunto da imigração, finalmente a resposta chegou… :) E ficaremos em Wellington mais um pouquinho…
Ah, como venta aqui!
Nosso favorite guest se despediu de nós em grande estilo, conversando pessoalmente com o Coelho da Páscoa e trazendo quitutes achocolatados para as crianças. Olha as carinhas de quem a-do-rou a surpresa.


Ah, tanta expectativa… Como eu precisava de um chocolatinho… Vem ni mim, cacau!
Mas tínhamos combinado de ir para Auckland, cuidar da Lemon, uma das filhas (que late, que fique claro!) de nossos queridos amigos brasileiros. Então, 'bora arrumar as malas!
Sempre começo embalando o mais importante!
Só que como dificuldade pouca é bobagem, além de ir sozinha com as três crianças, porque o Jorge estava aguardando uma ligação de uma empresa, decidi ir de trem. Cerca de 12 horas de viagem… Claro que fiquei receosa, achando que ia dar tudo errado… Mas a experiência valeria a pena. Ô se valeria! Lembro até hoje da primeira viagem de trem (de viagem, com restaurante e tudo!) que fiz de São Paulo a Sumaré. Não sei por que excluíram esse passeio. Foi uma das viagens mais gostosas que já fiz… E tinha certeza de que para as crianças seria muito bacana.
E lá fomos nós!
Bilhetes em mãos (madrugamos… as carinhas não negam…).
Os meus lindos com os fones para ouvir as explicações dos lugares pelos quais passávamos.
No desespero, abrimos o presente da nossa querida amiga Tanja. Ufa! Salva pelo chocolate!

Ói, ói o trem… 
Essa parte externa era ótima. Lá as crianças podiam correr e gritar à vontade! :D
Brincadeiras em baixo da mesa.
Cantoria em cima da mesa.
E todos sobreviveram. Eu até consegui dar uma cochiladinha… :)
Enfim chegamos a Auckland. A casa da Thais e do Angelo é uma delícia para crianças. Bom, eles sabem, pois têm quatro pimpolhos, além da Lemon. E fiquei me sentindo uma mãe bem má-o-menos com relação a proporcionar experimentações para meus pequenos…
Eles também são unschoolers e por isso há diversas "fontes" de aprendizado espalhadas pela casa. Livros científicos, sobre corpo humano e insetos, por exemplo, na sala, no mesmo lugar em que ficam diversos itens para artesanato. Um balde cheio de pecinhas de madeira para criar e recriar o que quiser. O teclado para criar músicas. Os bichinhos de feltro, de pano, de algodão. O escritório, cheio de coisinhas penduradas, criações começadas… Enfim. Um mundo pronto para as crianças descobrirem. Ah, sem falar no quintal, com árvores frutíferas e espaço…
Decidi que quando crescer quero ser igualzinha a eles! :D

As crianças estão, pouco a pouco, explorando as coisas por aqui, na casa, e ao ir ao mercado já percebi que o bairro é muito bacana, com aqueles parquinhos maneiríssimos… Ah, Auckland… Eu sabia que tinha gostado de você por algum motivo! rs…

6 comentários:

  1. Mulher, to lendo seu blog desde o começo, mas como tá nos feeds, vim ler o post novo já!! rs.. .queria começar dizendo que tô adorando o blog!! muito, muito!!

    E sobre a imitação, sou diretora de arte e aprendiz de webdesigner e uma das dicas para aprendermos a melhorar técnicas e afins é justamente copiar outros projetos. Porque ao imitar o que já foi feito, vamos encontrando soluções nossas para chegar aquele resultado e assim o leque vai abrindo! Então sim, a imitação é ótima aprendizagem! ;]

    Beijão e fico feliz que tenham conseguido o visto!

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  2. Ahh, tô triste... acabei de ler o blog todo =/.... quero mais! rsrsrs

    bjss

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    1. Iche, eu ando tão pouco produtiva… Vou tentar ser mais presente… rs...

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  3. Como é bom poder vir aqui e saber as novidades. Às vezes dá uma saudade imensa de vcs, aí venho aqui, pareço que ouço você contando tudo isso e a saudade dá até uma trégua.
    Fico feliz por saber que está dando tudo certo e que a Nova Zelândia resolveu aceitar vocês mais um pouquinho aí, já que vcs já estão tão bem acomodados. Estão em casa, né?
    Sobre o seu post de menas mãe, sei exatamente o que vc sente, mas pra mim o processo de mudar de atitude é muito mais lento e eu me pergunto o motivo. Tenho perdido a paciência e falado umas besteiras para a Nicole. Me policio e acontece de novo. Poxa =(
    Vamos ver se a gente consegue marcar um Skype??

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    1. É difícil, mesmo, Lia! Eu, com "11 anos de experiência" estou sempre engatinhando nesse processo…
      Vamos marcar um Skype, sim, adoraria!!!

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  4. Oi Penélope, tudo bem?
    Vim parar por aqui procurando sobre desescolarização, educação, etc. Nem preciso falar que me apaixonei pela sua família... todos lindos! E pela suas aventuras também...
    Só passei pra dizer que suas dúvidas, angústias e questionamentos não estão sozinhos. Eles existem em outras latitudes e longitudes também.
    Um beijo e não desista! Sermos surpreendidos pelos filhos é uma sensação maravilhosa!

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