segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lutar contra o sistema

Há certo tempo eu vi este vídeo no TED Talk, em que Manal al-Sharif quebra o tabu de dirigir na Arábia Saudita. Lá não há uma lei que proíba as mulheres de dirigir (e isso ela explica no vídeo), mas nenhuma mulher ousava dirigir por um tipo de convenção social-religiosa. E, a duras penas, ela quebra o tabu dirigindo e incentivando outras mulheres a fazer o mesmo ao postar um vídeo na internet. Não foi um caminho fácil para ela, que foi presa, teve o irmão preso e o pai teve de ouvir, durante o sermão na igreja (mesquita? Sei lá…), que as mulheres que dirigiam eram prostitutas. Além, é claro, de meninos na escola terem batido em seu filho.

E daí que hoje eu vi este vídeo, um documentário chamado Pro dia nascer feliz, de João Jardim. Nele há um trecho em que uma moça diz que não ia bem em redação, não porque ela não escrevesse bem, mas porque os professores não acreditavam que ela tivesse escrito o texto. Achavam que ela estivesse plagiando… E ela dava o maior valor pra escola! Não faltava, se esforçava para ir, mesmo sendo a, sei lá, uns 30 quilômetros de distância.
Fiquei juntando as duas coisas na minha cabeça e pensei… Poutz!!!
Primeiro que o discurso dos jovens no documentário é aquele discurso de sempre, que tem de estudar para ser "alguém". No meio do documentário também têm espaço para as dificuldades dos adolescentes em se aceitarem, em aceitarem o mundo. E eu pensei: "É claro que eles não vão se aceitar. Afinal, os adultos não os aceitam! Esperam que eles sejam alguém no futuro, ou seja, hoje eles não são nada…".
E os coleguinhas do menino batem nele porque a mãe dirige. Claro que esses colegas não têm nem muita noção disso, só estão reproduzindo o que a sociedade árabe prega, o que os pais pregam. No final do documentário há alguns relatos de violência e ali eu também só pude enxergar como as mulheres estão presas, ainda, a essa carga do discurso social que temos de ser rivais e os rapazes presos a não serem ninguém. Como uma diretora ou professora disse "eles não têm nada a perder". Claro que não! Não são ninguém…
O texto ficou uma bagunça, mas era para refletir sobre essas questões: os adultos nas escolas não ajudam os jovens a enxergarem quem são, os adultos nas famílias também, as sociedades são engessadas no "foi sempre assim" e é preciso coragem (agir com o coração) para mudar e aguentar o rebote. Manal al-Sharif conseguiu. Será que eu consigo?

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