sexta-feira, 13 de setembro de 2013

As coisas

Estamos sem casa. Reduzir nossa casa a algumas poucas caixas e malas não foi fácil. E foi muito interessante perceber como temos (tínhamos) coisas! Nossinhora! Comentei com o Jorge que temos de aprender a ter menos coisas ainda. Cheguei a um número de dois itens de enxoval (enquanto um é lavado, o outro é usado), cinco camisetas, duas calças, três bermudas e cinco roupas íntimas. Ficou velhinho, troca o item e assim continua. Imagina? Seria possível pôr toda a roupa da família em duas gavetas! rs
Atualmente estamos acampados na praia (quer dizer, na casa do meu pai, que fica na praia…) e hoje os meninos aprenderam algo que não tem preço numa cidade grande como São Paulo: brincar na rua! E eu sempre fico impressionada como crianças (em geral) fazem amizade facilmente. Meus meninos não têm muita crise. Chegam, conversam e pronto: são amigos. O Igor, acho que por conta da idade, chega meio envergonhado, mas logo se abre.
Eu também não ligo de conversar com estranhos, mas na maioria das vezes eu evito. Deve ser porque eu não brinco mais e procuro conversar com pessoas que têm algo em comum comigo… Pôxa, bem que os adultos poderiam brincar mais…
Ops! Estava já me perdendo nos pensamentos. O que eu vim escrever aqui, além das novidades, era justamente uma reflexão sobre as coisas. As tantas coisas que temos. As coisas que achamos que somos. E hoje, coincidentemente (não acredito em coincidência, mas vamos escrever assim que fica bonito), deparei-me com estes trechos do livro "Sociedade sem escolas", de Ivan Illich:

Para o reformista social não há regresso nem mesmo para as suposições da década de quarenta. Desapareceu a esperança de eliminar o problema da justa distribuição dos bens pela produção abundante dos mesmos. O custo do mínimo de embalagem capaz de satisfazer os modernos gostos subiu astronomicamente; e o que torna modernos os gostos é sua obsolescência antes de serem satisfeitos.
[…]
Uma sociedade comprometida com a institucionalização dos valores identifica a produção de bens e serviços com a demanda pelos mesmos. A educação que nos faz necessitar do produto está incluída no preço do produto. A escola é a agência publicitária que nos faz crer que precisamos da sociedade tal qual ela é. Em tal sociedade o valor marginal tornou-se sempre autotranscendente. Força os poucos grandes consumidores a disputar o poder para esgotar a terra, a encher seus estômagos inchados, a disciplinar os consumidores menores e paralisar os que ainda encontram satisfação em arranjar-se com o que possuem. O "ethos"da insaciedade está, pois, à raiz da depredação física, da polarização social e da passividade psicológica.
(páginas 122-123)

Porque o pensamento no livro é todo esse: do poder de quem detém o saber, do poder que traz a dificuldade de encontrar informações, do treino em sermos consumidores que a escola faz e aceitarmos o status quo
Estava auxiliando na edição de um livro para o ensino fundamental, de geografia, e conforme lia o texto e mudava alguns paradigmas em mim, menos eco o conteúdo encontrava na minha consciência. O fato de o livro conter narrações e narrações de como o mundo é não permite ao aluno perceber que, na verdade, o mundo está. E ele pode não estar assim ou assado se esse mesmo aluno achar que não.
Será que um dia consigo editar um livro com o que acredito? Seria uma experiência bem interessante…
Com relação às ciências deve ser a mesma coisa. Ok, há muitas leis e tal, mas se você trouxer inúmeras possibilidades para o aluno, ele será capaz de rever todas elas e, quem sabe, alterá-las! 
Por falar em ciências, fim de semana passado, em meio a mudanças mil lá em casa, fomos eu e o Igor ao Museu Catavento, encontrar uma amiga do Igor (uma fofa! A família toda, na verdade). Que lugar fantástico! O Igor corria de um lado para o outro, experimentando, encostando, lendo… Comentei com o Jorge que uma visita é pouco. Precisaria de muito mais.
Fora que depois fomos almoçar na casa dessa amiga e fechamos com um sorvetão. :) Foi um dia maravilhoso… E repleto de aprendizado. Por que nossa sociedade insiste em querer nos fazer acreditar que o aprendizado e o trabalho vêm acompanhados de um dia chato e monótono?

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