quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Perda de controle e a volta ao controle

Anteontem eu fiquei muito brava com o Caio; gritei com ele. Em seguida, respirei, pedi desculpas e tudo o mais, mas é claro que eu preferiria ter tido um maior autocontrole.
Fiquei pensando no motivo que me fez perder as estribeiras: mais uma vez o tema foi "comida". Eu tinha feito um suco de beterraba com maçã e dei uma "xicrinha" de café para cada um. Para provar que eu sou uma mãe má, mas nem tanto, o Igor tomou duas e disse que estava bom. A Anna também tomou tudo e pediu mais. Agora, o Caio... bem, ele ficou fazendo cara de nojo, voz chorosa, como se aquilo fosse uma colher de óleo de bacalhau.


De verdade, eu estava tratando o suco como necessidade máxima, porque só tínhamos comido tranqueira aquele dia: no frutas, no legumes, no verduras, muito açúcar e farinha branca. Então para apaziguar a minha consciência de mãe que quer se sentir zelosa, ofereci o suco aos três, dizendo: "Não tem como dizer não, porque esse aqui é obrigado a beber, tá?".
E o Caio fazendo aquele drama todo...
Eu tenho tentado ser menos autoritária com eles, procuro me pôr no lugar, deixá-los mais à vontade para escolher as coisas, mas anteontem eu percebi que não consigo. A minha consciência, a minha vontade de sentir que eu tenho algum controle da situação (porque dentro de mim ainda há a ideia de que se não comer bem, fica doente. Devagarinho a estou desconstruindo, mas é muito difícil!) não me permite deixar que meus filhos escolham livremente o que comem... E eu gritei com o Caio. Na verdade, eu parecia uma doida. Comecei gritando com o Caio e acabei no plural: "Pois a partir de agora eu vou voltar a escolher o que vocês comem, não tem mais discussão!".
Quando me vi na cena, respirei fundo, pedi desculpas por gritar (aos três) e fiquei pensando sobre essas coisas aí em cima, essas questões alimentares que ainda me pegam...
Quando eu era pequena, comia muito devagar e, quando chegava na metade do prato, já não tinha vontade nenhuma de terminá-lo: a comida estava fria, sem graça e eu me sentia satisfeita. Mas meus pais (e avós) insistiam que eu comesse tudo. Passei a comer tudo, mas não sei a que custo.
Fiz o mesmo com o Igor e associei as internações dele à falta de comida, mas eu deveria ter percebido que a falta de apetite já era, na verdade, um reflexo da doença instalada.
Pensando nisso tudo, sinto como um retrocesso interno ter de decidir sobre a comida deles, obrigá-los a comer o que não gostam (hoje fiz arroz com legumes, por exemplo, porque não tem como separar o legume do arroz...), cortar o que gostam (que em geral são doces e trash food). Por outro lado, o mundo capitalista faz muito bem o seu trabalho e só se morássemos totalmente distantes de tudo e não consumíssemos os bens culturais do capitalismo para meus filhos poderem decidir realmente por si mesmos. Se até eu me sinto pressionada para comprar coisas, que dirá as minhas crianças...
Sim, a "vontade" de tomar um sorvete, de comprar uma pizza, de comer um hambúrguer provavelmente vem das propagandas espalhadas por todo o lado...
Dois filmes sobre isso são:
Muito além do peso
Criança: a alma do negócio
Tem um outro que eu vi, estrangeiro, mas não me lembro o nome (pra variar...). Se eu esbarrar com ele de novo, atualizo com o link aqui.
Estava falando de um negócio, fui pra outro, mas no fim é isso: tenho tentado ter mais autocontrole, avaliar meus sentimentos quando o controle foge, respeitar meus pequenos. Mas não é fácil. Ô, coisa complicada refletir sobre as escolhas...
Aprendeu, mãe??

Um comentário:

  1. Aqui estamos passando por uma fase de autoritarismo que me deixa enojada. A Nicole, por exemplo, come de tudo, mas faz como vc falou que fazia: fica enrolando e nao acaba nunca. A gente nao consegue tirar o prato porque ela diz que ainda vai comer, mas demora demais até acabar. A gente sempre acaba apressando, e eu acho isso ruim demais. Ainda estou em busca do autocontrole. O meu fugiu nao sei pra onde.

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