quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Organizando a bagunça por aqui...

Aqui na Nova Zelândia você não pode ser unschooler declarado, mas o governo tem uma lei que defende que famílias eduquem em casa, com ou sem o auxílio do governo.  Para usar essa lei as famílias precisam pedir autorização para o Ministério da Educação por meio de um relatório completo de como você pretende educar sua ou suas crianças.
Esse relatório pode até conter todas as suas crenças com relação à educação e a como seu filho ou filha vai aprender (e essa descrição pode se casar com as características do unschooling), mas você não pode simplesmente dizer "vou deixar meu filho ou filha me mostrar como quer aprender". Quer dizer, até pode dizer isso, mas as chances de o governo lhe dar a autorização caem drasticamente, pois essa frase está no manual como não adequada... ;) Fica a dica! hahahaha

Enfim, como o visto do Igor chegou, agora ele não é mais considerado um foreign student, mas um domestic student, ou seja, tem direito a frequentar uma escola no país. E, por isso, eu tenho de pedir autorização ao governo para educá-lo em casa e fazer o dito relatório (que tô enrolando faz quase um mês!!! Ai...).
Essa semana eu falei para mim mesma "ou vai, ou racha". Como eu não sei definir exatamente o que "racha", achei melhor eu ir... Então me debrucei sobre todas as leis, regras, manuais e afins. E a Thais gentilmente me mostrou o que ela fez para a Melissa, a filhota mais velha. 
14 páginas?????
"Na verdade, esse está até pequeno. Chegamos a ver alguns exemplos com 25..."
E o que eu vou dizer em 10, 15, 25 páginas? Eu me pus a pensar... 
Eu não posso usar aquela frase ali em cima, mas é mais ou menos isso o que acontece aqui em casa. Não há nada estruturado, eu pensei. Sei que as crianças aprendem, pois vejo os avanços diariamente, mas não sabia dizer exatamente como isso acontecia. 
Daí que eu precisei observar como rolava o nosso dia e, a partir dessa observação, dar uma organizada nos meus pensamentos para poder escrever a verdade: como eles aprendem, o que eu, no fundo, quero que eles aprendam, como eu intermedeio a aprendizagem deles e, finalmente, como eu vejo os avanços.
E... voilà! Nossa rotina é mais organizada do que eu pensava! :D 
De manhã, em geral, eles escolhem atividades mais slow motion e isoladas, como ler livros e gibis (em inglês ou português), se debruçar sobre projetos pessoais (como Lego®, gibizinhos ou story board para filminhos de stop motion) e, vez ou outra, andar de patinete sozinho no quintal.
Eu sempre achei que a preferida era a bicicleta, mas estava enganada... :)
Quando vai chegando a tarde eles preferem coisas um pouco mais interativas, então é o momento de irmos ao parque, de eles brincarem ou fazerem algum projeto juntos, de pôr em prática alguns dos projetos pensados de manhã. Às vezes eu entro no meio para dar ideias ou ajudar a resolver algum desafio.
Aprendendo a lidar com menininhas de 2 anos que acham que entendem tudo de Twister. 
Fazendo paraquedas de sacola. Material: sacola, linha, tesoura e paciência.
Verificando a posição do paraquedista.
Mais um saltador se preparando...
O que tem lá embaixo?

Ah, é o Igor pegando o bonequinho para mais um salto!








Esse projeto era meu, mas eles me ajudaram e decidiram fazer um para o quarto deles! (É um presente pra uma amiga de Wellington que está de casa nova.)
E à noite, em geral, eles voltam pra uma atividade mais light, a não ser, claro, que não tenham descarregado toda a bateria durante o dia, porque aí eles preferem guerra de travesseiros ou dançar. Ah, e também tem os dias de visitas...
Socialização, a gente vê por aqui...
Firework no dia de Guy Fawkes.
E como eu "ensino" as coisas pra eles? Bem, quando acontece algum evento como esse aí de cima, por exemplo, explico pro Igor quem foi o cara (Guy Fawkes, no caso), o que ele representou na história e etc. e tal. Geralmente a pergunta parte dele mesmo, às vezes eu começo algum comentário para instigá-lo (o que muitas vezes surte efeito) e daí seguimos um caminho. Essa semana, por exemplo, conversamos sobre por que muita gente no Brasil tem medo de que o Brasil vire a Venezuela, o que representa ser o maior produtor de petróleo da América, o que pode motivar as guerras no mundo, o que foi a escravidão no Brasil e por que há políticas como as cotas universitárias, por que precisa ter um mês de consciência negra, o que são parasitas, que pássaro é o tsuru, entre outros temas...
Além, é claro, de ele me ajudar a fazer o cardápio da semana, dar sugestões de comida, fazer a lista de compras comigo (geralmente eu começo sozinha e depois ele vem, ou então prefere me ajudar no mercado, escolhendo os produtos, comparando preços, fazendo cálculos), me ajudar na cozinha ou escolher fazer um prato sozinho, medir papel para fazer origamis usando régua, calcular horários e dias, pegar livros de experiências na biblioteca... 
Pois é, o tempo todo estamos mostrando alguma coisa para eles ou eles nos estão questionando ou buscando por si mesmos. E agora o que eu preciso fazer é pôr tudo isso em umas 10 a 20 páginas... 
Ah, aqui está um dos filmes que eles fizeram: Robots

2 comentários:

  1. Que difícil montar uma planejamento quando o seu plano é seguir um fluxo natural! Mas eles conferem alguma coisa depois? Avaliam como anda o aprendizado? Enquanto o seu plano nao é aceito, o Igor pode nao ir à escola?

    Lendo sobre o que você explicou pra ele a respeito do questionamento sobre a Venezuela, fiquei com uma vontade imensa de ouvir toda a explicação. Meu nível sobre conhecimento de história e geografia está muito abaixo do de uma criança de 12 anos. Eu peguei uma raiva tao grande sobre essas coisas na escola, que parece que eu travei e não consigo entender absolutamente nada. Minha professora de hist e geo da 5a à 8a série, uma semana antes das provas, fazia a gente abrir os livros e grifar parágrafos e mais parágrafos que a gente tinha que decorar para fazer a prova. Era muita coisa, juro. Ah, e era escola particular, hein? No ensino médio, na escola pública, tive professores melhores, mas eu não conseguia aprender - não sei se por causa do "trauma", se pelo fato de eu continuar procurando nos livros os parágrafos importantes pra eu decorar, ou se porque, não tendo entendido o básico, eu não conseguia avançar. E sou assim até hoje :(

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    1. Também tive professores muito ruins de história, mas as de geografia foram muito bacanas. A do Ensino Médio era incrível! Entendo de cartografia por causa dela. :) Mas, claro, eu também tive de pesquisar, porque não sei muito sobre a história da América Latina. Aí coincidiu de a minha mãe postar esse vídeo: https://www.facebook.com/video.php?v=10205460992750770 E como eu tinha visto um documentário sobre a crise da água lá na Venezuela eu achei ele bem-feitinho...
      Quanto ao planejamento, eles fazem entrevistas e visitam a casa para confirmar as informações, sim. E também pedem relatórios, acho que duas vezes ao ano. E o Igor precisaria ir à escola, mas estou argumentando que já estamos em novembro. Talvez eles me deem um pito, talvez não... Enfim, vamos ver...

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