quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Leveza da liberdade

Tenho sentido as crianças mais "leves". Talvez seja puro reflexo da minha própria leveza.
O fato de não ter de tirá-los da cama antes que acordem por si próprios, de convencê-los a ir para um lugar que não querem ir (os pequenos, principalmente), de não ter a organização toda que demanda a ida diária à escola, me deixa verdadeiramente leve, sem peso, tranquila.
E tenho percebido que o Caio está mais criativo, mais inventivo. Tem voltado a ser mais quem ele era. O Igor? Sinto-o muito mais tranquilo, sem neuras de "o que eu faço agora".

Mas a verdade é que eu não sei como tem sido o dia a dia deles. Eu vejo-os, ainda, muito pouco. Um tico de manhã, caso acordem antes que eu saia para o trabalho, outro tanto à noite, quando chego em casa. Não é muito. Queria mais. :)
Por ora, entretanto, é o que dá e o que escolhemos para ser. Depois que o apartamento for vendido e nos mudarmos, outras mudanças precisarão acontecer.
Mas voltando a essa questão da liberdade de ser, uma vez, quando a professora do Caio reclamou pelo fato de ele chegar na escola sonolento, escrevi uma carta para ela. Não entreguei pois achei que ela fosse achar que era pessoal e, na verdade, eu escrevia para todo o sistema. Hoje já penso que essa energia que gastei em escrever a carta e que iria gastar ao entrar em embate com ela deve ser transmutada em mim. Não é com o outro. Não é uma afronta. É verdadeiramente o que eu e o Jorge acreditamos como melhor para eles e para nós.
A carta é a que segue.
"Professora Xxxxxx,
Apenas para não soar simplista ou egoísta, escrevo-lhe, dando continuidade à nossa brevíssima conversa hoje cedo. Antes de mais nada, venho de família de educadores e, por isso, reconheço e valorizo a profissão de professor e sei das dificuldades diárias enfrentadas por você e seus colegas de profissão.
Justamente por reconhecer essas dificuldades faço ideia do esforço que fazem para, na medida do possível, respeitar as individualidades de cada aluno. Entretanto, reconheço também a falha nesse processo. Não sua, mas de todo o sistema educacional brasileiro, que inclui os CEUs; mesmo com suas propostas mais arrojadas frente a alguns outros estabelecimentos de ensino, continua com a visão do século retrasado. Padronizar alunos só funcionou quando o futuro almejado se tratava de uma linha de produção. Hoje, o futuro é o mundo, não a fábrica da cidade.
Pôr limites fisiológicos às crianças vai contra tudo o que acredito como saudável. Obrigá-los a comer, dormir, com ameaças ou premiações não faz parte do que eu acredito e pratico como educação, por isso peço perdão por, infelizmente, não corresponder ao que você (como representante do sistema educativo) espera para pôr 'ordem' à classe. Sei que isso exigirá mais paciência, mais traquejo e mais disposição do que você já pratica diariamente, mas espero que compreenda o futuro que almejo. Se em cada sala de aula tiver um pai ou uma mãe que pensem que educar é muito além do que o sistema oferece, tenho certeza de que em duas ou três gerações (como afirma Maturana) teremos um novo Brasil.
Conto com sua paciência em prol dessa grande mudança! Se quiser referências bibliográficas para se aprofundar neste assunto, estou à disposição, assim como para conversarmos e ouvir a sua opinião.
Um abraço!"

2 comentários:

  1. Pê, que reflexões ótimas, vieram de encontro com meus pensamentos de hoje. Mais uma vez obrigada por compartilhar conosco.
    Abreijos fraternos

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  2. Pê, adorei a carta, mas acho que vc fez certo em não entregar para a professora. As chances de ela ter levado para o lado pessoal teriam sido muito grandes... hahaha

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