terça-feira, 29 de julho de 2014

Urso adormecido

Quando eu era mais nova eu vi um filme (com aquele lindo do Brad Pitt), que não me lembro o nome (só pra variar...) que ele falava algo como: "meu urso está adormecido" quando alguém perguntava se ele tinha superado a morte do irmão etc. e tal. (Acho que era esse o enredo.) Daí que eu adotei isso pra mim e virava e mexia escrevia nos meus diários que meu urso estava adormecido. Eu me sinto assim quando não necessariamente superei alguma situação, mas quando estou conseguindo conviver com ela.
Pois bem, estou convivendo com a ideia de o processo do Igor ainda estar rolando na imigração e com a minha dificuldade em aprender inglês. Mas para ele dormir, levou um tempo... e foi muito difícil. Vamos a la Jack, por partes...
Não tinha nenhuma foto recente pra pôr, então pus eu tirando catota para dar uma animada em quem vai ler este post chaaaaaaato... :)
Casa
Estávamos caçando uma casa para ficar quando um amigo falou de um amigo que tinha de ir para o Brasil por motivo de saúde na família e ia ficar puxado arcar com o aluguel daqui estando lá e tals... Nós achamos, a princípio, o aluguel além das nossas possibilidades, a casa distante, mas mesmo assim marcamos de ir ver. Conhecemos o Lucas. Ô cara simpático! Daí que não era mais possível analisar a situação racionalmente e resolvemos ajudá-los (o Lucas e a família) e topamos ficar na casa enquanto o sogro dele se restabelecia. Daí que três dias depois o sogro dele já estava melhor! :) E daí que a esposa e as filhas voltariam dali a um mês. Conclusão: toca procurar casa de novo...
Diariamente eu envio uns três ou quatro e-mails. Como eu disse para a minha mãe, acho que as pessoas pensam que é impossível manter uma casa inteira com três crianças, sei lá... E daí que ninguém aqui acha um imóvel com dois quartos suficientes para nós (pois é, aqui não é você que escolhe quantos quartos quer, mas os agentes imobiliários e os proprietários decidem se a casa serve ou não para a quantidade de membros da sua família). Temos até 16 de agosto para encontrar alguma coisa. Torçam por nós!

Imigração
Eu ainda não sei se vamos ou não ficar aqui. O governo está bancando um monte de testes e exames para saber se, afinal, o Igor tem ou não tuberculose. Se nossa sociedade fosse organizada de outra forma, se se acreditasse mais no corpo do que nas doenças, com certeza gastaria-se bem menos dinheiro. Primeiro porque o Igor está bem, disposto, ativo, com apetite (de passarinho, como sempre hehehe). Segundo porque eu tentaria tratamentos alternativos, bem mais em conta. Só que não é assim que funciona. Se eles acham que meu filho pode ser uma arma biológica, a única coisa que posso fazer é aceitar as regras deles para provar que não. E as regras são fazer e refazer exames de sangue, raio-X, tomografia... Como se o estresse desse monte de processos invasivos já não fossem o bastante para deixar qualquer um doente...
A outra parte chata é não saber o amanhã. E aí, posso fechar o aluguel por um ano? E aí, posso procurar um emprego?

Emprego
Decidi que em vez de pegar freela vou procurar trabalho por aqui. Isso evita a burocracia da transferência de dinheiro e nos economiza taxas e nervos. Então saí à busca! E o que fazer? Qualquer coisa que não precise representar a empresa para os clientes, porque, como disse, meu inglês é deprimente... Espero pelo menos passar na entrevista! hehehe

Escola
Se o visto do Igor for aprovado, ele terá de estudar um tempo por aqui, só até o governo nos autorizar a ensiná-lo em casa. Mas, de acordo com uma amiga, parece que o governo está bem em cima e não quer autorizar unschoolers, apenas homeschoolers... Então eu não sei muito bem o que vou precisar fazer, ainda vou ter de ver essa parte. Nem estou pensando nisso ainda, porque a gente nem sabe se vai rolar o visto do Igor ou não, né? Uma coisa por vez...
E em relação a nossa experiência de unschooler, ela continua bem interessante para mim (para as crianças eu não sei...). Tenho aprendido cada vez mais que dirigir menos é mais aprendizado. Praticamente não tenho proposto atividade para as crianças e elas estão se mantendo incrivelmente ocupadas, principalmente na brincadeira de Lego e da bola gigante (aqui na casa do Lucas tem aquela bola de pilates). Só ontem que eu pedi que eles fizessem uns desenhos para mandarmos para uns amigos em Wellington.
O Igor tem escrito cada dia melhor e tem praticado escrevendo mensagens para as pessoas lá no Brasil. Hoje ele bateu um papo com a minha sogra, por exemplo. E a nossa relação está bem boa, desde que o Jorge assumiu as conversas, digamos, difíceis. Só hoje tivemos um atritozinho (porque ele insiste em pegar pesado com o Caio e quando eu interfiro é um draaaaaaaaama), depois de, acho, umas duas semanas sem nada. Um marco na nossa relação mãe-filho.
O Caio está um menininho! Parece que ao fazer 5 anos ele deixou para trás aquela carinha e jeitinho de bebês... Está mais maduro, falando melhor, elaborando histórias mirabolantes e inventando um monte de coisa. Além de se mostrar cada dia mais interessado em escrever.
A Anna é de surpreender. Cada dia ela aprende algo novo! Ela sabe muitas cores, alguns números (e o sentido deles), está elaborando frases maiores e tudo, agora, ela põe "Eu-eu-eu-eu-eu" umas cinco vezes. Isso que é querer se afirmar como um serzinho.

Eu
Já eu, como disse, estou apenas com meu urso adormecido... Continuo achando que sou um zero à esquerda com a língua e como mãe também. Como é que a gente faz pra ensinar essa criançada a gostar de coisas que fazem bem à saúde?? Como é que ensina a fazer xixi na privada?? (Nem parece que já passei por isso duas vezes, credo!) Como é que ensina a comer e ir deixando de mamar??
Então, eu não sei e não estou com tempo de refletir a respeito, pois estou com um freela bem longo, que vai me ocupar até agosto. Acho que no fim vai ser bom pegar um trampo mais braçal e poder meditar enquanto trabalho...
E enquanto eu escrevia isso o Caio me pediu comida. Ofereci o que tinha "tem arroz, feijão, purê de abóbora e se você quiser eu posso fazer uma saladinha. Tem alface, tem tomate...". "Só arroz e feijão" foi a resposta. E enquanto eu esquentava a comida ele pediu: "Ah, eu vou querer também uma salada com cebola e óleo". Hein???? Pois é... Também me choco. No fim o problema é esse mesmo: continuo tentando ensinar. Ainda não aprendi que são eles que me ensinam.

2 comentários:

  1. Sempre leio seus textos pelo celular e espero vir no computador para poder comentar. Vim aqui, escrevi um comentário enorme e, na hora de logar com minha conta do Google, perdi tudo. Aaargh.
    Mas enfim, eu tinha comentado que estou torcendo demais para essa fase chata passar. Que, antes de tudo, essa suspeita de tuberculose seja só besteira da parte deles (como assim eles acham que o Igor tem tuberculose? de onde veio essa suspeita? e se ele estivesse, vcs nao conseguiriam o visto??). E que saia logo a estada permanente (ou provisória, do jeito que vcs sao hahaha - mas que a saída daí seja por vontade própria depois que "sugarem" tudo o que tem de bom aí).
    Acho que o universo está testando mesmo vcs. Colocando vários obstáculos no caminho para vcs provarem o quanto estao dispostos a seguir a vida que escolheram. E tenho certeza que logo, logo ele vai se conformar que a escolha é pra valer, e aí as coisas vao deslanchar.

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  2. Não comento nada, mas leio sempre. Desafios semelhantes (em relação às crianças) nos rondam o tempo todo. E elocubrações sobre a felicidade, também. Andamos um pouco de mãos atadas em relação às coisas, mas em cada brechinha que a vida dá, a gente anda um passo (ou dá uma corrida). Em frente, companheira beijão. P.S.: Isso de ter que esperar uma resposta para poder pautar sua vida.. odeio e sou solidária. Mas deve ter lição aí nesse miolo.

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